Organizar para avançar [EDUC>ação]

SINASEFE completa 30 anos de existência e resistência. Trabalho e organização, palavras-chave que a história nos mostra para seguir adiante

Charge: Rafael Balbueno/SINASEFE Litoral
Charge: Rafael Balbueno/SINASEFE Litoral

Participando de alguma atividade sindical ou de algum espaço dos movimentos sociais, talvez você já tenha escutado frases como “só a luta muda a vida” ou “nossa situação atual é resultado de muitas lutas”.

Por mais que possam soar como clichês, frases como essas resumem bem a maneira como os trabalhadores historicamente podem conseguir vitórias conjuntas e melhorias em suas condições de vida cotidiana: por meio da organização e reivindicação coletiva.

Surgido na esteira do fim da ditadura brasileira e da promulgação da Constituição de 1988, o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica e Profissional, SINASEFE, nasceu de uma necessidade clara desse servidores esquecidos do setor de educação se associarem uns aos outros para terem assegurados direitos e avançar em conquistas.

Olhando para os dias atuais, em que os servidores públicos são taxados como os vilões em um país de cada vez menos serviços públicos e investimentos em queda, talvez muitos nem acreditem que parte considerável destes trabalhadores há menos de vinte anos já estiveram entre aqueles com rendimentos médios fixos abaixo de um salário mínimo.

Nem tão difícil de acreditar é que a primeira greve tocada pelo SINASEFE, em 1989, já no fim do governo Sarney, tenha articulado pautas ainda em debate na sociedade, como a abertura de novos concursos e a contratação de mais trabalhadores para melhoria das instituições federais de ensino.

Também desde aquele tempo os trabalhadores reivindicavam dos sucessivos governos o aumento de verbas para as instituições e a defesa da autonomia universitária contra os desmandos dos governos da vez.

Para Aliomar da Silva, técnico-administrativo em educação do Instituto Federal do Espírito Santo que se dedica, há muitos anos, à melhoria da carreira TAE, a situação hoje só não é pior por conta desta resistência ativa dos servidores.

“Não fosse essa resistência dos trabalhadores e das trabalhadoras por meio das lutas organizadas a partir do SINASEFE, o cenário das nossas instituições de ensino seria ainda mais complicado do que já é”, afirma.

Com a criação da Rede Federal de Educação Básica, Técnica e Tecnológica, em 2008, a identidade da Educação Básica e Profissional como modelo unificado se fortalece. Aliada a grande expansão da Rede nos anos seguintes, fortalece-se também a identidade dos servidores dos Institutos Federais, protagonistas de um passo importante da Educação do país em direção à interiorização e especialização dos jovens.

O impacto positivo destes trabalhadores na formação de gerações de estudantes capazes de aliarem boa formação acadêmica com cidadania já podem ser vistos em índices quantitativos de medição de conhecimento, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

Além da mudança na percepção da sociedade sobre o ensino técnico e profissionalizante, visto cada vez mais como uma formação de qualidade quando fornecida pelos Institutos Federais.

Mesmo diante das diversas dificuldades do caminho, no futuro é muito provável que o processo de expansão dos IFs e sua consolidação mostrem ainda mais seus impactos na realidade brasileira.

Isso tudo, construído pela luta de trabalhadores e trabalhadoras da educação comprometidas com suas funções dentro e fora da sala de aula, em trabalhos de ensino, pesquisa e extensão que aproximem a ciência da vida prática.

Não que os IFs representem o grau máximo onde se posa chegar como modelo de educação para a cidadania. Muito pelo contrário.

Docente do IF do Rio de Janeiro, Fabiano Faria, aponta diversos lugares em que ainda é possível evoluir: “Por mais que a Lei 11.892 [que cria os IFs] aponte para uma educação progressista, politécnica e libertadora, falta ainda uma identidade político-pedagógica para os Institutos”.

Para o professor, persiste na Rede “uma visão meritocrática, empresarial, tecnicista e tradicional”, e o avanço representado pela equivalência entre professores da Rede Federal com os professores do Ensino Superior das Universidade Federais, conquista de movimentos de reivindicação e greves do SINASEFE, será efetivada no cotidiano dos Institutos quando “nos apropriarmos das discussões progressistas de educação e fazê-las valer de fato”.

Ilustração: Rafael Balbueno/SINASEFE Litoral
Ilustração: Rafael Balbueno/SINASEFE Litoral

Muitas vezes notados em sua importância somente quando deixam de cumprir seus trabalhos cotidianos e aderem a movimentos de paralisação e greves, os servidores públicos da educação estão sempre empunhando a bandeira da qualificaçao da educação, em favor da liberdade de aprender e ensinar e dos direitos humanos como fundamentais para seguirmos, como país, adiante.

Diante de constantes ataques do último governo e das sinalizações de que o próximo período pode ser ainda mais complicado, não restam opções. É preciso resistir para existir.

Os anos que virão tem tudo para serem tensos. “Provavelmente não teremos qualquer tipo de reajuste salarial, e é possível que em função dos cortes nos investimentos e repasses do orçamento muito em breve tenhamos dificuldade mesmo em continuar funcionando” afirma o professor do IFRJ. “E estou falando de coisas básicas, como água, luz e telefone”, completa.

Com este quadro, as principais lutas da categoria no próximo período, de acordo com ele “consistirão em bandeiras democráticas ou referentes às nossas condições de trabalho, como por exemplo as 30 horas para os TAEs, a luta contra o ponto docente e contra o famigerado PL Escola Sem Partido”.

Com trinta anos de resistência e ativismo propositivo, crescendo e dividindo seus espaços com outras organizações de trabalhadores, o SINASEFE Nacional, bem como o SINASEFE Litoral, não sairá de onde sempre esteve: na luta!

Sem dispensar os clichês, só a organização coletiva dos trabalhadores fará possível que a educação como bem ‘público gratuito e de qualidade’ não esteja só nos slogans, mas sejam, de fato, uma realidade no país.


SINASEFE Nacional lança revista
comemorativa de 30 anos de fundação

Ao completar três décadas de lutas em defesa da educação, dos educadores, das educadoras e da classe trabalhadora brasileira, o SINASEFE lanou no mês de novembro selo de 30 anos da entidade e uma revista com o resumo de sua trajetória – CONFIRA.

A publicação apresenta a história do SINASEFE, analisa como o sindicato surgiu a partir da antiga Fenasefe e seu formato atual. Traz ainda linha do tempo com as principais lutas travadas pelos servidores públicos federais e, em especial, os da Rede Federal de Educação, e o histórico de todas as greves entre 1980 e 2017, pontuando as principais conquistas da nossa categoria a partir destas lutas.

A revista traz ainda cronograma dos principais fóruns da entidade, as PLENAS e os CONSINASEFES, marcando como o sindicato foi sendo moldado a partir de suas deliberações ao longo do tempo.

Com 60 páginas, a publicação tem artigos assinados por servidores da educação e pela funcionária mais antiga em atividade na entidade reconstruindo um pouco a trajetória do Sindicato.


Leia também:

O que marcou 2018 – Retrospectiva

Munição de retrocessos

Educação enfrenta pressão conservadora no país

Em defesa dos Institutos Federais e da Educação Pública


Este texto integra a edição número 5 (virada de ano 2018-2019) do boletim EDUC>ação, publicação bimestral do SINASEFE Litoral que traz em suas páginas temas que aproximam os atos de educar e agir, partes fundamentais do trabalho de filiados e filiadas à Seção e, também, de todos que desejam uma sociedade mais solidária, justa e igualitária.

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