Com cortes, prioridade do Instituto será pagar água, luz e terceirizados

De acordo com comunicado da Reitoria a verba para custeio das atividades teve o maior corte, 39%. Medida foi anunciada pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub, na última segunda, 29, e atinge em cheio manutenção dos campi do Instituto

A ‘nova era’ da Educação iniciou 2019 como a velha política dos anos anteriores: com cortes e incertezas para as instituições federais de ensino. Desta vez, cerca de um terço do que foi orçado como verba das Universidades e Institutos Federais não chegará ao destino;

A medida atinge diretamente a simples continuidade das atividades no Instituto Federal Catarinense. Em comunicado à comunidade, a Reitoria do IFC confirmou o tamanho dos cortes.

  • Capacitação: corte de R$138.288,00 (30% do orçamento)
  • Custeio: corte de R$18.027.046,00 (39% do orçamento)
  • Investimento: corte de R$1.197.816,00 (30% do orçamento)

Veja aqui a descrição completa dos cortes realizados no IFC (em .pdf)

O corte é tão profundo nos já restritos recursos do Instituto que a gestão enviou às Direções-gerais de seus campi um memorando recomendando “medidas de economia” e a priorização do que chamou de “serviços essenciais”: água, energia, telefonia e serviços terceirizados.

Numa atualização de seu comunicado, a reitora do IFC, professora Sônia Regina de Souza Fernandes, argumenta que, embora seja possível manter as atividades do Instituto a curto e médio prazo, o corte inviabilizaria seu funcionamento no longo prazo.

“Nossos campi agrícolas, por exemplo, exigem manutenção extensa realizada por servidores terceirizados; caso o bloqueio permaneça, essas atividades se tornam inviáveis já a partir do segundo semestre. Os cortes interferem também no trabalho pedagógico realizado por todos os nossos docentes e técnicos”, afirma.

Direções se posicionam: ano letivo pode não acabar

Desde que o corte foi anunciado pela Reitoria, ao menos duas das unidades mais antigas e importantes do Instituto se manifestaram publicamente sobre a medida do MEC.

Em nota, a Direção do Campus Camboriú destacou o corte anunciado na unidade, mais de 2,2 milhões de reais. A nota prossegue com uma declaração do diretor-geral do IFC Camboriú, Rogério Luís Kerber: “Avaliando a conjuntura, tenho a expectativa e torço para que o bloqueio possa ser revertido. Caso contrário, teremos que efetuar cortes drásticos nos contratos de prestação de serviços terceirizados, além das atividades ligadas ao ensino, pesquisa e extensão”.

Só no Campus Camboriú a medida atingiria os quase 3 mil alunos em todos os níveis oferecidos pela Instituição. De acordo com Kerber seria necessário um corte de 65,5% nos serviços terceirizados como vigilância e limpeza. “Mesmo com economia dos serviços essenciais, não conseguiremos chegar ao final do ano letivo nessa situação”, destacou o diretor.

A Direção do Campus Concórdia é outra que já veio à público demonstrar preocupação com o corte anunciado. O Campus teve um bloqueio de cerca de 2,3 milhões de reais e o diretor Nelson Golinski afirmou, em contato com rádios locais, que o corte pode inviabilizar a conclusão do ano letivo também em Concórdia.

Golinski lembrou ainda que a realidade dos Institutos já é de retenção absoluta de gastos há alguns anos. A informação é a mesma repassada pelo Pró-Reitor de Administração do Instituto, Stefano Demarco, em abril do ano passado.

Naquela ocasião, o então governo Temer cortou R$11 milhões de investimentos conseguidos pelo Instituto via emendas parlamentares (entenda aqui). Demarco afirmou na época que o recurso barrado na velha era Temer seria utilizado em ações que o orçamento do Instituto não cobria “dada a falta de reajustes que compensassem a inflação dos últimos anos”.

Ideologia de direita é motor dos cortes

Já com uma realidade de menos recursos ano após ano para investimentos e mesmo para manutenção de suas unidades, as gestões e as comunidades das Universidades e Institutos Federais desde o início deste ano precisam conviver ainda com um governo que os escolheu como um dos seus alvos políticos prediletos.

As ações como a execução do hino nacional nos colégios e o envio de uma carta de boas-vindas aos alunos utilizando o slogan de campanha do presidente Jair Bolsonaro, algumas das marcas da gestão Ricardo Vélez Rodriguez no MEC, ganharam até mesmo um ar de inocência com o início da gestão Weintraub.

Professor universitário, Abraham Weintraub tem longa ficha de serviços prestados a bancos e entidades de especulação financeira. Ao lado do irmão, Arthur Weintraub, atual secretário do Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Abraham palestrou na Cúpula Conservadora das Américas, ocorrida em dezembro do ano passado.

Em sua apresentação, a dupla listava estratégias para “vencer o marxismo cultural nas universidades”. Boa parte delas inspiradas em teorias do astrólogo e guru intelectual do governo eleito, Olavo de Carvalho.

O corte nas universidades e institutos federais não foram feitos sem outro episódio de polêmica ideológica do ministro. Antes de anunciar que todas as instituições entrariam na navalha, Weintraub adiantou que seriam três seus alvos principais: as Universidades de Brasília (UnB), e as Federais Fluminense (UFF) e da Bahia (UFBA) por, nas palavras dele, promoverem “a balbúrdia” e “eventos ridículos”.

Sua gestão já havia entrado em outra polêmica poucos dias antes, ao afirmar que retiraria verbas de cursos como Sociologia e Filosofia por conta do ministro não observar ganhos no desenvolvimento do país a partir destes cursos.

Reitoria tentará reverter a medida. Ministro compara reitores com diabéticos

Segundo a nota publicada pela Direção do Campus Camboriú do IFC, a reitora do Instituto, Sônia Regina Fernandes, já estaria se preparando para participar, em Brasília, de reunião do CONIF, órgão que reúne os Reitores dos Institutos Federais de todo o país.

A ideia, também ventilada em declaração à imprensa pela Reitora do IFSC, Maria Clara Kaschny Schneider, é de que na semana que vem os reitores exponham em conjunto a impossibilidade de um corte tão grande em audiência com representantes do Ministério da Educação.

Enquanto isso, em seu Twitter, o ministro da educação declarava que perguntar sobre pluralidade e tolerância aos “reitores (ditos) de esquerda” das Universidade faria tanto sentido “quanto pedir sugestões sobre doces a diabéticos”.

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