A paz nas escolas e a necessária transformação social [PdB]

“Se por um lado a responsabilidade dos atos cometidos pelos atiradores não pode ser colocada sobre a figura do atual presidente, por outro lado, a campanha pró-armamento, o discurso de ódio, que propaga a misoginia, o racismo e a eliminação física de quem pensa diferente, são plataformas políticas ligadas diretamente ao discurso de Jair Bolsonaro, fatores que contribuem para um ambiente propício para a disseminação da cultura da violência e do ódio”.

por Rodrigo Lima¹

O dia 13 de março marcou de forma trágica a comunidade escolar da Escola Estadual Professor Raul Brasil, localizada no município de Suzano/SP. O massacre perpetrado por dois ex-alunos resultou na morte de cinco estudantes, de duas trabalhadoras da educação e no suicídio dos atiradores, além de onze alunos feridos.

O dia 13 de março marcou de forma trágica a comunidade escolar da Escola Estadual Professor Raul Brasil, localizada no município de Suzano/SP. O massacre perpetrado por dois ex-alunos resultou na morte de cinco estudantes, de duas trabalhadoras da educação e no suicídio dos atiradores, além de onze alunos feridos.

O dia 13 de março marcou de forma trágica a comunidade escolar da Escola Estadual Professor Raul Brasil, localizada no município de Suzano/SP. O massacre perpetrado por dois ex-alunos resultou na morte de cinco estudantes, de duas trabalhadoras da educação e no suicídio dos atiradores, além de onze alunos feridos.

A perda de vidas, fruto de uma violência absurda, trouxe a tona questões relacionadas à violência nas escolas, ao armamento da população, e a possível influência de jogos e das redes sociais no comportamento dos jovens.

Minutos após o massacre, o Senador Major Olímpio (PSL/SP), de forma oportunista e desrespeitosa, aproveitou-se do momento de comoção nacional para afirmar que “se tivesse um cidadão armado dentro da escola, um professor, um servente, um policial aposentado lá, ele poderia ter minimizado o efeito da tragédia”, complementando com críticas ao estatuto do desarmamento.

Hamilton Mourão, o vice-presidente da República, afirmou que a culpa pelo massacre era dos videogames, ou seja, a violência seria em decorrência da garotada estar “viciada em videogames violentos”.

O Presidente Jair Bolsonaro levou mais de seis horas para se manifestar e prestar solidariedade às vítimas e aos familiares, uma demora injustificável para um político que se comunica de forma ágil pelo Twitter.

O massacre de Suzano não foi o primeiro do gênero na história do país.

Se por um lado a responsabilidade dos atos cometidos pelos atiradores não pode ser colocada sobre a figura do atual presidente, por outro lado, a campanha pró-armamento, o discurso de ódio, que propaga a misoginia, o racismo e a eliminação física de quem pensa diferente, são plataformas políticas ligadas diretamente ao discurso de Jair Bolsonaro, fatores que contribuem para um ambiente propício para a disseminação da cultura da violência e do ódio. É preocupante perceber que tal visão de mundo perpassou as redes sociais, indo além da adesão de segmentos da extrema-direita, e passou a ocupar espaço central no Palácio do Planalto.

Em uma conjuntura tão difícil, o desafio que se coloca para aqueles/as que lutam pela paz nas escolas e na sociedade é enfrentar e derrotar a lógica da violência que vem ganhando força no país, para que não se repita no Brasil o que acontece largamente nos Estados Unidos da América, país no qual tiroteios em massa ocorrem com uma frequência assustadora. Apenas em 2018, noventa e quatro incidentes de tiroteios ocorreram em escolas nos EUA.

A descabida proposta de armar professores/as e trabalhadores/as em educação é mais uma saída simplista e oportunista apresentada pelo bolsonarismo para tratar de um tema tão complexo e delicado quanto a violência nas escolas brasileiras.

Segundo pesquisa organizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), considerando dados de 2013, o Brasil é o primeiro colocado no ranking de violência nas escolas, entre 34 países pesquisados.

As violências que ocorrem no ambiente escolar são múltiplas e decorrentes de diversas e diferentes causas. Violências como agressões físicas, verbais e simbólicas são produzidas pelas relações sociais estabelecidas no ambiente escolar, pelas próprias instituições, via exclusão educacional e/ou por gestões autoritárias, e pela falta de políticas públicas que possibilitem a construção das escolas enquanto ambientes de paz.

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Exclusão social; falta de infra-estrutura, de recursos humanos e de assistência estudantil; distanciamento das escolas com as comunidades; militarização das escolas; tráfico e consumo de drogas; presença de gangues no ambiente escolar e no seu entorno; discriminação por questões raciais, de gênero e de orientação sexual, são algumas entre tantas violências presentes no cotidiano educacional do país.

A superação destas formas de violência consiste em um desafio que deve envolver a comunidade escolar, os movimentos sociais ligados à educação e o Poder público, em uma ampla articulação que se sustente em uma construção democrática, organizada de baixo para cima, que proponha alternativas de prevenção, redução e erradicação das violências do ambiente escolar.

A busca pela paz nas escolas deve caminhar junto à construção de uma sociedade de paz. Infelizmente, o Brasil tem caminhado na direção contrária. Cabe aos trabalhadores em educação, estudantes e pais lutarem por alternativas políticas, pedagógicas e sociais para a construção de uma escola de paz. O que deve ocorrer em conjunto da luta por grandes transformações sociais que o país precisa, que apontem para uma sociedade fraterna, justa e igualitária.

Como afirmava Paulo Freire a “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” Precisamos urgentemente construir essa mudança, para evitarmos a barbárie.

1 – Rodrigo Lima é professor de Sociologia no Campus Araranguá – IFSC. Mestre em Sociologia pela UFRGS. Atualmente faz parte da Direção da Seção Sindical – Sinasefe IFSC. Atua na Corrente Sindical Unidade Classista.

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